A Miséria do Historicismo

A principal contribuição de Karl Popper para a filosofia foi na área da filosofia do conhecimento. Entretanto, assim como muitos outros que experimentaram a ameaça do totalitarismo, ele não deixou de contribuir também para a filosofia política. Com efeito, sua contribuição para a filosofia política não foi meramente rapsódica. Os dois volumes do A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, escritos no exílio, em 1943-45, foram uma das peças mais influentes do século XX e, se não fosse o bastante, foram por meio delas que o restante da filosofia de Popper se tornou conhecido fora do mundo não-germânico. Os dois livros, como ele descreve, eram “uma coleção de notas marginais relativas ao desenvolvimento de certas filosofias historicistas”.1 Para ele, o totalitarismo estava em íntima relação com o que chamava de historicismo. O início da sua crítica ao historicismo pode ser rastreado a meados de 1935. Em uma série de artigos, Popper empreendeu uma refutação à metodologia das doutrinas historicistas. Mais tarde esses artigos foram reunidos na forma de um livro, com o título de Miséria do Historicismo, fazendo clara alusão aos títulos da polêmica entre Marx e Proudhon. Nesses artigos, ele procurou refutar o historicismo do ponto de vista estritamente metodológico, de modo que, em sua obra seguinte, ele procurou demonstrar como o historicismo foi utilizado para fins totalitários.

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Durkheim e a Solidariedade Social

Emile Durkheim foi o primeiro professor a ocupar uma cátedra de sociologia na história. No entanto, antes dele muitos haviam contribuído para o estudo da sociedade, particularmente, para o estudo do fenômeno da divisão do trabalho, mas, a maioria deles, economistas ou filósofos, haviam sido insuficientes porque ignoraram ou não compreenderam corretamente a importância da moral para os fenômenos sociais. Da Divisão do Trabalho Social, originalmente sua tese de doutorado, e publicada definitivamente em sua segunda edição em 1902, era o esforço de Durkheim para criar uma ciência que investigasse a moral. E por moral, entende justamente a tensão que vincula o indivíduo à sociedade. Continuar lendo

O Dever Moral em Criton

No final da Apologia, o discurso que narra o julgamento e a defesa de Sócrates, descobrimos que ele foi considerado culpado (leia mais aqui). O sistema jurídico ateniense permitia uma apelação na forma de contra pena. Era a oportunidade de amenizar a proposta exigida pela acusação e livrá-lo da morte. O ápice da exortação é nesse momento. Sócrates é desafiado pelo dilema: promete o fim das suas atividades e acata a sentença, ou mantêm sua percepção do que era justo e continua sua missão filosófica, mas padece por elas. Assim como Antígona, na peça de Sófocles, ele escolhe a obrigação divina em detrimento do julgamento civil. Ele não pretende abandonar o espírito filosófico se esta é a condição para se salvar. “Por tanto, atenienses, vos digo que ou me condenais, ou me absolveis. Mas ficai sabendo que não mudarei de conduta, nem que tenha de morrer mil vezes” (30bc). Se voltarmos a atenção para Criton perceberemos a contradição da posição de Sócrates. Se na Apologia aparece como um rebelde, um mártir como descreve Ernest Baker, no Criton aparece insistindo, que mesmo condenado injustamente, deve se submeter a moral das leis. Continuar lendo