A Dialética do Esclarecimento (e da Dominação)

O livro, Dialética do Esclarecimento, escrito em conjunto por Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, é o esforço em compreender uma das questões que assombraram o século passado: a razão da história humana, em vez de ter encontrado o progresso, regredir em uma nova forma de barbárie, o fascismo. Alguns pensadores já haviam tentado explicar as razões que haviam permitido o surgimento do fenômeno durante o andamento incerto da Segunda Guerra Mundial. A crítica dos liberais ganhou larga aceitação, porque logo em seguida outro fenômeno totalitário, ainda que mais antigo, tomou a atenção do ocidente; mas essa não é a única diferença em relação aos liberais. Adorno e Horkheimer derivam a condição moderna do processo dialético do esclarecimento. O esclarecimento alcança seu ápice no Iluminismo, mas, e é importante adiantar, não se prende a uma linha cronológica precisa, nem se limita ao Iluminismo, visto que para eles o caráter de dominação se mantém constante na história.1 De qualquer forma, são críticos do otimismo típico do sistema iluminista e seu racionalismo. Por outro lado, os liberais, embora igualmente vejam o nazifascismo como uma reação ao fracasso da experiência dos séculos XVII e XVIII, em geral, defendem justamente o otimismo (não ingênuo) do esclarecimento como antídoto. Continuar lendo

Philip Pettit e a Liberdade Neo-Republicana

Philip Pettit em diversas ocasiões admitiu seu débito com Quentin Skinner. Pettit, ao inverso deste historiador, é um cientista político que não se aventurou na história, mas se apropriou da iniciativa do historiador para extrair uma teoria política alternativa no debate contemporâneo sobre o conceito de liberdade. Pettit assumiu as contribuições de Skinner, no esforço para redescobrir a tradição republicana, e com elas foi de encontro ao debate proposto por Isaiah Berlin em torno dos conceitos de liberdade. Berlin tornou clássica a divisão entre a liberdade negativa e a liberdade positiva.[1] O problema fundamental das suas insinuações, segundo as quais só existiriam dois modos de se pensar a liberdade, é que não consideravam a tradição republicana e o modo como pensavam a liberdade. Os republicanos relacionavam a ideia de liberdade com a ausência de subjugação. Skinner tentou trazer à luz essa tradição esquecida, demonstrando que o conceito de liberdade republicana, ou como ele a chamava, neo-romana, não se encaixava na dicotomia, mas, pelo contrário, era complementar aos outros dois conceitos (leia mais aqui). Pettit, de forma ainda mais ambiciosa, porém com certas divergências do seu antecessor, tenta estruturar uma teoria mais completa para a liberdade neo-republicana. Continuar lendo